segunda-feira, 21 de julho de 2008

MÃES MÁS

Um dia quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes: - Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

Eu os amei o suficiente para os fazer pagar pelas balas que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: "Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar".

Eu os amei o suficiente para ter ficado de pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.

Eu os amei o suficiente para deixá-los assumir a responsabilidade por suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).

Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer:

"Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo... As outras crianças comiam doces no café e nós só tinhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes no almoço e nós tinhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles.

Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Ela insistia conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.

E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata!

Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer.

Enquanto todos podiam voltar tarde tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelo menos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).

Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
- Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.

Foi tudo por causa dela.

Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo o melhor para sermos "pais maus", como minha mãe foi. Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: não há suficientes mães más.
Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra

Um comentário:

Anônimo disse...

Mais ou menos isso; tem alguma coisa a mais de diferente. Na verdade, os pais e mães de hoje não têm mais o tempo que os de antes possuiam para prestar atenção nos filhos. A mãe de antigamente vivia em casa; observava cada palavra, cada gesto, cada atitude dos filhos. E não havia internet, né não? O tempo passou, as coisas mudaram e as pessoas não notaram. Pais distantes muito tempo dos filhos não combina com uma boa educação. Ninguém, além dos pais, tem tanta preocupação com os filhos. Então, escolha: Mães sem trabalhar, com filhos ou mãe trabalhando, sem filhos? Há outra opção? Condição financeira também pesa muito. Antigamente, as crianças de famílias com pouco poder aquisitivo não tinham televisão em casa. Portanto, não eram tão bombardeadas pelos apelos do consumismo. Hoje o menino de favela sabe tudo e quer tudo; e vão buscar a todo custo. As garotas, também, não tinham acesso a certas imagens e, portanto, eram mais fáceis de se controlar; havia censura. E por aí vai...então, pensem muito antes de ser pai ou mãe...pensem, pelo menos, um milhão de vezes. Se não quiserem se dar a esse trabalho... é mais cômodo não pensar, né não?