Nicholas já não aguentava mais
contar com as anotações de Maya para estudar quando faltava as aulas. Era a ela
que ele recorria, mas Maya tinha a mania de fazer marcações de trechos
estranhos dos textos em cores coloridas no tablet e isso deixava Nicholas
louco. Era a demonstração da inteligência fora do comum de Maya, mas Nicholas era
prático: isso atrapalhava mais do que ajudava. Se Sofia também não tivesse
faltado aquela aula... Ela tem faltado muito desde que resolveu trabalhar na
empresa da mãe. “É só uma experiência, não quero trabalhar com isso”, ela vive
repetindo, mas todo mundo sabe que é mentira.
Sofia, Maya e Nicholas. se
conhecem desde pequenos e, para eles, é estranho estudar na mesma faculdade dos
pais. “Minha mãe não estudou lá”, vive repetindo Sofia, também – ela repete muitas
coisas, e isso não é um bom sinal para quem quer seguir os passos da mãe,
baseado na objetividade e imediatismo do Jornalismo. A única coisa que ninguém
a vê repetir é sobre o amor platônico que ela sente por Heitor. Ela esconde
porque é claro que ele está mais preocupado com seus planos de passar oito
meses viajando pelo mundo depois da faculdade do que com amor, até mesmo com as
aulas, que estão prestes a acabar. Para ele, que decidiu ser jornalista como os
pais, esta viagem é imprescindível para completar sua formação profissional. Na
verdade, todos eles são filhos de jornalistas, mas não concordam inteiramente
com Heitor sobre carreira. Maya parece ser a única a concordar com ele, mas ela
prefere acreditar que fará muito dinheiro visitando pequenas marcas de roupas e
sapatos mundo afora e fechar parcerias para trazer para o Recife peças exclusivas,
enquanto o foco de Nicholas é o mundo digital. Todo ele. O cara é fera.
Rapaz franzino, esse Nicholas. Com
uma pele cor de doce-de-leite e uma tremenda dor de cabeça. Sua mãe contou há
algumas semanas que a tatuagem que ela tem no pulso é igual a dos amigos de
faculdade. Foi feita anos depois de formatura – na verdade, muitos anos depois –
por todos, juntos, no mesmo dia e no mesmo lugar, numa raríssima chance que
tiveram de se ver. Diz a lenda que, no dia em que, todas as tatuagens se
juntarem novamente, vai chover chocolate. Nicholas precisa disso. Ele acredita
em um mundo melhor. E convenceu os amigos a ajudá-lo a encontrar os amigos da
mãe e convencê-los a se encontrar em algum lugar, qualquer lugar, para que a
profecia se realize. Bem que podia ser em Londres. Bem que podia ter cupcakes
de Romeu e Julieta. O lugar não importa: o que importa é o benefício mundial de
todos estarem juntos novamente. E os cupcakes, claro.
Para André, Nina, Dani, Carla, Deza, Tê, Ju, Cris e Rex, que nunca ficarão tão longe assim de mim.
Um comentário:
Só agora tive a oportunidade de ler, e digo: QUE ESSA CHUVA DE CHOCOLATES NÃO DEMORE, QUE SEJA BREVE, MUITO BREVE! SAUDADE!
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