quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VELHO LOUCO ME ALERTA SOBRE OS PERIGOS DA VIDA

Eu estava muito bem nesse dia. Era um dia bonito, alguns diriam, pois tinha um sol bem forte e o céu estava limpo. Realmente era um ótimo dia para ficar no ar condicionado. Porém eu não tenho muita sorte na vida e nesse dia eu saí para tentar ajeitar a minha.
Pois bem, tentativa de ajeitar a vida foi arruinada e eu estava voltando para casa depois de uma longa caminhada debaixo daquele sol daquele lindo dia - eu já estava muito suado, fique sabendo. Pego o ônibus e chego no terminal onde eu teria de ficar esperando o outro ônibus para casa.
Como eu estava bastante cansado, procurei um canto naqueles velhos, enferrujados e grudentos bancos do terminal. É usual que o lugar logo ao lado do lixeiro estivesse vazio e também é usual eu sentar ali. Equipado com meu novo equipamento de mp3 eu fui lá e sentei ao lado do lixeiro repleto de abelhas à minha direita e, no meu lado esquerdo, um velho de camiseta de marinheiro e bigode torto.
Se não me engano eu estava ouvindo Los Hermanos. Não que isso tenha alguma importância crítica para o entendimento da história, só queria dizer.
Não sou do tipo que ouve música no último volume, pois eu gosto de poder ouvir alguém me chamando se for o caso. E por causa dessa característica eu percebi que o velho louco e de bigode branco e torto do meu lado estava gesticulando, falando e olhando pra mim. Fiz o que todo bom cidadão faria: fingi que não vi nada.
Por cerca de meia música essa atitude deu resultado. Porém o velho tinha uma meta naquela manhã e essa meta era conversar comigo. Ele me cutucou na coxa.
- Oi, que foi? - eu perguntei depois de tirar o fone esquerdo da orelha.
- Tá vendo isso aqui? - ele ma fala virando o cotovelo direito pro meu campo de visão. Nesse cotovelo tinha um pequeno corte já com o sangue coagulado para o qual ele apontava de maneira frenética. Obviamente era isso que ele queria mostrar. Provavelmente ele gostaria de iniciar uma daquelas épicas conversas sobre machucados. - Olha, pingou sangue na minha bermuda!
- Hm... que coisa... né? - botei meu fone no ouvido e dessa vez fiquei olhando na direção contrário de onde o velho estava sentado.
Consegui ouvir mais uma música até que...
- Moço - o velho me cutuca outra vez na coxa. Dessa vez eu nem tiro o fone.
- Oi, diga.
- Tá ouvindo o rádio? - dei boas risadas por dentro com essa pergunta.
- Sim. Rádio. - e novamente desviei meu olhar para longe do velho.
Não muitos segundos depois, outra cutucada. Dessa vez eu tirei o fone.
- Que?
- Moço, eu... Olha, eu vi na TV uma vez... É que isso aí, essas coisas aí na orelha... Isso não faz bem pra memória.
- Hm - foi aí que me "interessei" pela conversa.
- É... Dizem que isso aí suga a sua memória.
- É mesmo? Mas eu gosto mesmo assim.
Depois de alguns segundos de silêncio entre eu e ele olhando olho no olho, o velho retoma a conversa:
- Tem uns que gostam de fumar, você gosta do rádio. Eu sei, já fui jovem... Mas isso aí não faz nada bem pra memória. Fumar tudo bem... não vejo problemas.
Ok, se você quiser fumar, vá em frente, coloque a fumaça pra dentro e inicie seu câncer, seu mau hálito e seus dentes amarelos agora mesmo. Mas, meu amigo, NÃO COLOQUE ESSES FONES NO OUVIDO SE VOCÊ QUISER SE LEMBRAR O QUE COMEU NO ALMOÇO!
Botei o fone, troquei de música e aumentei o volume. Não foi o suficiente. De novo alguém cutucava minha coxa e, sim, era o velho.
- Oi, que foi?
- Moço, o terminal lá do centro é mais comprido que esse aqui, né?

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