quinta-feira, 5 de novembro de 2009

NÃO ENTRA MUDO, MAS SAI CALADO

Parece piada de mau gosto, mas existem muitas pessoas que terminam um relacionamento e se esquecem (ou negligenciam de fato este ritual de passagem) de comunicar ao outro sua decisão!
São as típicas peritas na arte de deixar o parceiro com cara de ué... Simplesmente somem sem sequer um tchau oficial pra sinalizar que estão indo embora. A quem fica, resta um imenso e angustiante ponto de interrogação e as repetentes perguntas: o que houve? Será que eu fiz algo de errado?
Em princípio, realmente nada justifica esta atitude. Todo mundo merece ao menos uma declaração explícita de que aquilo que havia já não existe mais. Afinal de contas, se as circunstâncias sempre têm uma lógica, haveremos de considerar que uma pessoa só vai embora porque um dia chegou. E se chegou, passou a fazer parte. Portanto, ao sair, reza a boa educação um ‘aviso prévio’, pois ainda que não estejamos tratando de empregos ou negociações acordadas sob contrato impresso e assinado, toda relação tem seu contrato implícito.
Sobretudo, comunicação faz parte de qualquer relacionamento inteligente e respeitoso. Uma conversa que esclareça sentimentos, desejos e escolhas pode ser uma oportunidade bastante enriquecedora para os dois, pois evidencia pontos falhos, aponta comportamentos que podem ser melhorados e, sobretudo, dá a quem fica a possibilidade de vivenciar o processo de forma inteira, com começo, meio e fim.
Não há nada que consuma mais uma pessoa do que o torturante exercício das suposições para tentar descobrir porque o outro, de uma hora para outra, por pior que pudesse estar a relação, não mais atende ao telefone, não mais responde mensagens, não aparece e nem manda notícias.
O silêncio é mestre em algumas ocasiões; em outras, no entanto, é punhalada na alma, é alfinetada no coração. É certo que nenhuma relação termina da noite para o dia e que muitas situações vão pontuando que algo precisa ser feito para que os sentimentos sejam reciclados, revivescidos e salvos de um agonizante adormecimento. Mas a verdade é que impor uma morte súbita a uma relação pode causar danos desastrosos àquele que é privado do direito de ouvir, de chorar, de argumentar e, enfim, absorver a decisão do outro, compreendendo que por mais que não se queira ou por mais que doa, ninguém é dono de ninguém e somente a cada um cabe a decisão de ir ou vir, ficar ou partir...
Enfim, sugiro aqui uma reflexão a quem tem dificuldade de terminar seus relacionamentos; a quem, por medo de magoar o outro ou para se abster do constrangimento de se expor e revelar suas opções contrárias às opções do outro, desaparece do mapa sem deixar rastros ou pistas.
Que essas pessoas percebam o quão admirável é ser claro, o quão digno é se posicionar, o quão ético é considerar os sentimentos daquele com quem se dividiu dias, meses ou anos de intenções, planos, sonhos e desejos. Sobretudo, o quanto ainda é um ato de amor a simples atitude de fechar a porta ao sair...
Rosana Braga

Nenhum comentário: