sexta-feira, 21 de novembro de 2008

OS DESCARTÁVEIS E SUAS... VIRTUDES!

A cada dia os produtores de “descartáveis” apresentam novas virtudes para os seus produtos: a higiene dos copinhos de café, que são eliminados sem a necessidade de serem lavados e fervidos; a desnecessidade de se perder tempo, água e sabão na lavagem de toalhas de linho, guardanapos, lenços, fraldas; o ganho de energia em não se ter que dar corda ao relógio, ou carregar a caneta com tinta... Afinal, a água está cara, a energia mais ainda e o tempo é cada vez mais escasso. Todo esse “desgaste” pode ser largamente compensado pela compra diária de novos produtos, em lugar de se reutilizar monotonamente os tradicionais, durante anos a fio!

Agora se apregoa a “leveza dos pets”, em que são acondicionados e transportados os refrigerantes. Sem dúvida, esses recipientes de plástico são melhores e menos vulneráveis que as cascas ou invólucros das frutas naturais. E muito mais leves para serem carregados pelos caminhões do que as antiquadas garrafas de vidro. Somando-se a isso a eliminação da necessidade de lavar e desinfetar os tradicionais “cascos” de vidro, poderíamos facilmente chegar à espantosa conclusão de que também o caminhão poderia ser jogado ao lixo e substituído por um novo a cada viagem...

Esse hábito, ou prática quase obrigatória da descartabilidade progressiva, já assume contornos de fenômeno psico-social de alto significado em relação à história de nossos costumes. Despojamo-nos de tudo o que é antigo, tradicional, ou que recorda hábitos, pessoas e episódios de outrora. Já não há sentido em guardar ou apreciar – pelas recordações agradáveis ou históricas que traz à memória – uma xícara de fina porcelana, um cristal de fino lavor, um relógio suíço de delicado trabalho artesanal, ou qualquer memória familiar, tradicional ou cultural. Tudo pode ser substituído: a moda, festas regionais e comidas típicas, comemorações sociais ou religiosas, ou até a família. Tudo o que é velho pode hoje ser jogado ao lixo...

Como nas escavações arqueológicas, o lixo é a coisa mais valiosa que possuem as sociedades modernas!

Samuel Murgel Branco

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