segunda-feira, 11 de abril de 2011

DEZ ANOS

Dez anos atrás, vivi um dos melhores fins-de-semana da minha vida, nas areias brancas e águas quentes de Alter-do Chão (escolhida recentemente a praia mais bonita do Brasil), apaixonado, feliz, transando feito um louco com a mulher com quem passaria o resto da minha vida. E enquanto arrumava minha mala para voltar pro Rio, feliz, com todo meu futuro pela frente, Herbert Vianna sofreu um acidente de ultraleve que matou sua mulher e o deixou sequelado para sempre. E foi um momento agridoce tapa-na-cara pé-no-chão, porque Herbert é da minha terra, usa óculos e adora ska como eu, acompanhei sua carreira, fui testemunha do seu enorme amor pela Lucy e, agora, assim, de repente, enquanto eu transava apaixonado pelas águas do Tapajós, puff. Acabou-se Herbert&Lucy. E fiquei trsitíssimo mas ainda mais decidido a viver a minha vida, correr atrás da minha felicidade, vencer a distância, ser feliz com a mulher que eu acabara de escolher e que acabara de me escolher de volta. Porque o tempo passa. E, enfim, inevitavelmente, como ele sempre faz, o tempo passa. Nunca mais vou ser tão feliz quanto naquele fim-de-semana, porque o primeiro amor, de quando a gente ainda não foi ferido pela vida, de quando ainda não temos dúvidas nem traumas, não tem igual, não se repete. A vida guarda outras infinitas felicidades, e também é uma delícia o amor maduro entre dois veteranos sem-ilusões calejados nas guerras do coração, mas o primeiro amor, esse só acontece uma vez. Eu fui feliz. Aproveitei até o talo. Casei, amei, me separei. Herbert Vianna, antes desenganado, hoje já voltou até a cantar. E eu, continuei sempre amigo da ex-mulher. Ano passado, viajei até o Timor-Leste para passar um mês com ela. E hoje, como se fechando um ciclo de dez anos, Herbert Vianna ganhou na Justiça uma indenização do fabricante do ultraleve, contrariando os boatos de que tinha matado sua mulher por imperícia e incompetência, por estar fazendo malabarismos imaturos em seu brinquedinho de roqueiro rico. Mas não, era o ultraleve que derretia no calor forte, e Herbert agora vai mostrar aos filhos a prova de que não foi ele o culpado pela morte da mãe. E assim dez anos se passaram. E, por incrível que pareça, estamos quase todos aqui, um pouco mais velhos e barrigudos. Até que, um dia desses, quando se passarem outros dez anos, teremos ficado em algum ponto do caminho, mas pessoas continuarão amando e se encontrando, e no dia em que eu morrer, de susto, bala ou vício, quem sabe na casa ao lado ou no quarto em frente, algum casal de tolinhos também vai estar se amando e também vão achar que é para sempre, e, sabe qual é? Vai ser mesmo, até acabar. E então, vai ser pra sempre de novo. E de novo. E são pensamentos assim que me enchem de felicidade e possibilitam minha vida. Porque hoje eu já chorei muito, por doze crianças que eu nem conheço num bairro onde nunca nem fui. E a única coisa que cura a dor é a felicidade, a única coisa que vence a morte é a vida. Se não sou feliz, é importante que alguém, em algum lugar, esteja.

3 comentários:

Barrozo disse...

Hey, obrigado pelo link para o meu blog!

Viviane Teobaldo disse...

Que nadaaaa! Nada além que nossa obrigação! ;-) Curto muito seus textos e quero dividir isso!

Chantinon disse...

muito bom!
Fazia um tempo que não encontrava um blog de conterrâneos com conteúdo.