quarta-feira, 5 de maio de 2010

DOR NA NUCA

A curiosidade sobre esses assuntos é enorme. A cada dez pessoas que converso, sem sombra de dúvida, dez querem saber como é, como funciona. Repito, a curiosidade, torna-se mórbida nesses temas, não importando a idade, classe social, local, cabedal...
Vou exemplificar através de uma experiência muito rica onde um senhor apresentou-se queixando-se de que era portador de dores na parte de trás do pescoço, ao longo dos ombros e na parte superior das costas. As dores iam e vinham nesse vai e vem alternado. De tempos em tempos retornava, e, em muitas vezes, com tal intensidade que se via sem outra alternativa a não ser correr a um massagista para providenciar a sensação de alívio. Até a próxima crise.
Conhecia todos os “profissionais do alívio”, era assim como se referia, da cidade, como também, da região toda. Nomes e endereços na ponta da língua.
Pois bem, a situação apresentou-se com ele ouvindo muitas vozes, em local público, braços e pés amarrados, vestimentas muito humildes. Era um homem. Estava preso. Descreveu, a princípio, muito taciturnamente, balbuciando as sílabas das palavras, que era uma espécie de praça pública. Reconhecia nos rostos das pessoas, parentes seus, amigos de longa data que mentalmente rezavam e pediam tranqüilidade e fé. Haviam curiosos em grande número que, ao ser levado para a guilhotina, gritavam palavras de ordem afirmando que a justiça estava sendo feita.
Um parênteses: tenho como postura, combinar sempre, que evitaremos sofrimentos desnecessários, emoções com desmesurada intensidade. Bolsões carregados de tanta emoção, requerem vagar na drenagem. Necessitamos esvaí-los controladamente, mesmo porque, o objetivo não é machucar, mas sim, curar.
Retornando ao nosso atendimento, enquanto aguardávamos o andamento daquela execução, solicitei repassarmos seus familiares presentes, um a um, analisando seus relacionamentos, de forma sucinta, o que fez, carregado de extrema emoção.
Solicitei-lhe a olhar com seus próprios olhos aquela lâmina, afiadíssima e assassina, segundo ele. Na verdade, encará-la. Frente a frente. Ele e a lâmina. Surpreendi-me com sua reação, pois, havia administrado muito bem a sua forte emoção. Balbuciou que agora via que aquela situação não era de todo tão ruim, pois, iria recomeçar uma nova vida. Talvez, menos sofrida. Acreditava que iria recomeçar do zero. Tudo outra vez.
Tranqüilizei-o lembrando-lhe do nosso “acordo” de ao primeiro sinal do ato em si, imediatamente ele me avisaria para que seu retorno ao dia de hoje fosse providenciado. E assim foi feito.
Encontrei-o algum tempo depois e afirmou que não lembrava ter sentido a dor novamente, agradeceu muito.
Essa é a recompensa gratificante. O olho no olho da gratidão!

Valente

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