terça-feira, 19 de maio de 2009

A PROCURA DA VERDADE

Era uma noite quente de Verão. Duas pessoas estavam andando pela praia ouvindo o barulho suave das ondas e vendo o céu repleto de estrelas. Ambas perceberam alguns fachos de luz no mar. Uma delas era um físico aposentado, daquele tipo de cientista que só pensa no trabalho. A ciência era a sua vida. Ele correu para o carro onde, sendo como era, guardava toda espécie de equipamento científico. Pegou um cronômetro e mediu a duração dos flashes. Pegou um fotômetro e mediu o brilho dos flashes. Montou um espectômetro e registrou o espectro deles, anotou a posição das luzes em relação às estrelas. Enquanto voltava para casa pela orla marítima, parou algumas vezes, tomando notas sobre a localização das luzes e fazendo alguns cálculos por triangulação. Quando chegou em casa, a esposa, percebendo sua inquietação, pergunta:

- Você parece agitado, querido. Viu alguma coisa interessante esta noite?

- Vi, responde ele, deduzo que tenha visto um filamento de tungstênio incandescente, fechado numa cápsula de sílica, emitindo um padrão regular de flashes de radiação visível a uma intensidade de 2.500 lúmens, à distância de uns 850 metros da praia.

A outra pessoa na praia aquela noite era um adolescente voltando da reunião dos escoteiros do mar.

- Você parece agitado. querido. Viu alguma coisa interessante esta noite? - Perguntou sua mãe.

- Vi, respondeu o rapaz, vi um barco sinalizando S.O.S. e telefonei para a guarda costeira. Eles mandaram um barco salva-vidas.

Qual deles deu a descrição mais exata daquilo que observaram? Nenhum. Cada um deles deu uma descrição perfeitamente acurada, mas em termos bem diferentes. O físico descreveu o que viu da única maneira como poderia descrevê-lo, dentro dos limites da linguagem, dos conceitos e das unidades de medida reconhecidos pela Física. Se dissesse mais, estaria sendo "não-científico", no sentido de estar ultrapassando o que um físico poderia dizer como tal. A física pode medir fachos de luz e falar sobre eles, mas não entende nada de código morse e de S.O.S. Isso é uma outra área de conhecimento.

Essa história ilustra a limitação de nossos conhecimentos e de nossas experiências, sobretudo quando utilizados para fazer considerações sobre os "outros". Muitos de nós, muitas vezes, sentimos o impulso de generalizar a experiência pessoal. Esquecemos que os outros são realmente "outros", diferentes de nós.

(...)

Nenhum ser humano sob a face da Terra tem toda a verdade. Cada um de nós tem apenas uma pequena parte dela; mas, se estivermos dispostos a compartilhar nossos fragmentos, nossos pedacinhos da verdade, teríamos todos uma parte muito maior, muito mais completa da realidade total.

(...)

Cada um de nós tem uma parte da verdade a compartilhar.

Daniel Carvalho Luz

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