segunda-feira, 20 de abril de 2009

AMAR É...

O amor é uma corrida apressada até o fim e o mais alto do outro. Só depois de se lá chegar, e viver, e ser, e gozar, e sentir, começam os percalços da volta, o retorno às partes que se tornaram retardatárias, mas existem e se movimentam. É como o curso de um rio que desemboca no próximo e reflui. Na vigência explosiva ou hipnótica do amor, chega-se logo - e com deslumbramento! - ao fim do curso. Há o refluxo. A água volta à origem e, nesse (eterno) retorno, passa - aí diferente - por todas as partes que ficaram submersas, invadidas ou esquecidas quando da primeira e imperiosa torrente.

Na vigência do amor, as pessoas vão até o fim da outra muito rapidamente, passando por cima, ambas, de peculiaridades, maneiras de ser e comportamentos.

O amor é sempre o preço dessa volta e a cobrança de cada carência que estava no caminho e fora superadapela volocidade e intensidade das águas-paixão. Essa volta vai revelando, dia a dia, momento a momento, as margens ou remansos de cada um, que fermentaram esquecidos ou deixados para depois na passagem turbilhonária e deslumbrante da paixão. Aí estão os mais lindos recantos de cada ser ou se escondem as águas turvas, os aspectos menores e restritivos.

Difícil, portanto, não é a chegada ao fim: é viver os vários refluxos. Neles escondem-se as depressões suficientes (ou não) para terminar o amor. Ao mesmo tempo o amor cresce, na medida em que o refluxo permite descobrir, com calma e vase na realidade, as partes lindas das margens de cada um, os remansos, as terras fecundadas, as voltas sinuosas, os jardins e partes férteis de cada ser.

Artur da Távola

Um comentário:

saulo bittencourt disse...

Uma verdadeira aula. O pior é que ninguém consegue ver dessa forma, antes de submergir. A palavra AMOR é muito bonita, muito requintada, muito charmosa pra expressar um vendaval tão devastador. Ou será que a usam na situação errada? vulgarizaram o termo? Por fas ou por nefas, livrai-nos senhor de todo o mal.