quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

AMOR PLATÔNICO

Não sei o quanto da história aconteceu, mas, de tão bonita, a tomei por verdadeira. Em 1547, Michelangelo Buonarrotti contava com 72 anos. Tinha amealhado fortuna e reconhecimento. Insuficientes, contudo, para aplacar a tristeza sentida quando viu o cadáver de Vittoria Colonna, a Marquesa de Pescara.

"Nada me desola mais do que, mesmo em seu leito de morte, haver ousado beijar-lhe somente a mão e não os lábios", disse o mestre a um de seus discípulos, antes de cair doente por várias semanas.

Quase dez anos antes, em Roma, Michelangelo conhecera Vittoria, mulher mais famosa da Itália, poetisa, mística e protetora das artes. Ela tinha 49 anos; ele, 64. Uma paixão carnal seria considerada escandalosa. Assim, vieram sonetos e cartas no lugar de abraços, desenhos substituíram carícias.

Vittoria já tinha amado _ e muito. Passional, quis o suicídio em 1525, quando o marido militar, Francesco, morreu por conta de ferimentos de batalha. Michelangelo nunca teve a sorte (ou azar, quem sabe?) de viver tais excessos.

Quando ela se foi, deixou 352 sonetos. Ele só iria encontrá-la 17 anos depois, em 1564. Sobraram as pinturas da Capela Sistina, Pietà, David, a cúpula da Basílica de São Pedro.

Fico me perguntando se, de algum modo, Michelangelo teve a chance de reparar o grande erro de sua vida. E o motivo pelo qual, séculos depois, outros insistem no mesmo sofrimento.

Arrastão

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