quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O BURACO

Eu caminho pela rua.
Existe um buraco na calçada.
Estou distraído, pensando em mim, e caio lá dentro.
Me sinto perdido, infeliz, incapaz de pedir ajuda.
Não foi minha culpa, mas de quem cavou aquele buraco ali.
Eu me revolto, fico desesperado, sou uma vítima da irresponsabilidade dos outros e passo muito tempo lá dentro.

Eu caminho pela rua.
Existe um buraco na calçada.
Finjo que não vejo, aquilo não é meu problema.
Eu caio de novo lá dentro.
Não posso acreditar que isso aconteceu mais uma vez.
Devia ter aprendido a lição e mandado alguém fechar o buraco.
Demoro muito tempo para sair dali.

Eu caminho pela rua.
Existe um buraco na calçada.
Eu o vejo.
Eu sei que ele está ali, porque já caí duas vezes.
Entretanto, sou uma pessoa acostumada a fazer sempre o mesmo trajeto.
Por esse motivo, caio uma terceira vez: é o hábito.

Eu caminho pela rua.
Existe um buraco na calçada.
Eu dou a volta em torno dele.
Logo depois de passar, escuto alguém gritando - deve ter caído naquele buraco.
A rua fica interditada, e eu não posso seguir adiante.

Eu caminho pela rua.
Existe um buraco na calçada.
Eu coloco tábuas em cima.
Posso seguir meu caminho e ninguém mais tornará a cair ali.


Texto adaptado de uma história de Portia Nelson, por Paulo Coelho

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